Nasce uma Paróquia

Quem seguir a orla marítima de Icaraí vai alcançar, no final da praia, esquina com a Avenida Almirante Ary Parreiras s/n° e a Rua Joaquim Távora, um templo católico, que logo chama a atenção por suas características diferentes das de todos os outros na cidade de Niterói. Foi o primeiro em linhas modernas.

É dedicado a São Judas Tadeu, apóstolo de Jesus Cristo e seu primo de sangue, e leva já o privilégio de se localizar “num dos recantos mais belos do mundo”, na expressão do padre Abílio Real Martins, seu primeiro vigário.

 

Para quê? Fazer igreja...

Sua construção urgia para atender às necessidades da paróquia recentemente criada, numa época de muita contestação. Não escapava a Igreja. O empenho estava em descobrir injustiças para denuncia-las. Incluía-se aí, então, o que parecia a alguns um grande contraste – a suntuosidade de algumas igrejas e a pobreza tão sofrida.

Era também sua hora, pensava o padre. Já precisava apelar… Dinheiro! E o pedia. Para quê? Fazer igreja…

Mons. Abílio

1ª Imagem de São Judas

Local escolhido

Marco arquitetônico

Só que fazia questão de levar ao conhecimento dos Fiéis e devotos, e lhes repetia com frequência e muita clareza, seus propósitos: “a igreja não seria luxuosa, queria-a, sim, funcional, de material durável, simples e, se possível, bela. Belo não quer dizer rico e caro”, dizia. Seu sonho: “dar um marco arquitetônico ao local nobre de Icaraí”. Deveria, ainda, no seu conjunto, fazer sobressair um marcante e proposital contraste – o despojamento do seu interior. Era o que convinha à época e ao ambiente, destinado ao recolhimento e à prece.

Estas ideias vinham delineadas na competência artística de seu amigo e arquiteto Manuel da Silva Machado, que lhe ofereceu três projetos de construção. Optou pelo terceiro, por achar que correspondia ao seu conceito de arte sacra.

“Belo não quer dizer rico e caro.”

Mons. Abílio Real Martins

Formação Litúrgica e Inteligência Arquitetônica

Desde aquela hora aliaram-se a formação litúrgica do pastor e a inteligência do arquiteto para a execução do projeto de 1960, aprovado em 29.10.1962 e reaprovado em 14.02.1963, e que traz até hoje características de modernidade.

A hora decisiva de começar a obra chegou em 1969, e, com ela, surpresas penosas e positivas que ficam para a história.

Que Deus a queria, era uma certeza. Os acontecimentos o confirmavam, e São Judas, por que não dizer, estava de olho nela…

Então, adiante! Os recursos técnicos superaram os tropeços políticos e o arquiteto determinou como preservar o canal de Icaraí, pretexto para tantas “negaças” na opinião dos responsáveis. Escolheu três pontos fora dele para suportar o peso da cúpula, e disso resultou a igreja de forma triangular.

Ora, o triângulo é a figura geométrica utilizada para simbolizar a Verdade que deseja revelar-nos o mistério central da fé e da vida cristã – há um só Deus, em três pessoas distintas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

A presença de tal simbolismo se conforma de Várias maneiras.

Em 1980, a ENITUR  (Empresa Niteroiense de Turismo) solicitou do padre Abílio Real Martins informações sobre a moderna arquitetura, já em destaque. Em resposta, ele assim se expressa: ‘… Daí sua forma triangular que, pela pureza geométrica, inculca ao vivo a simplicidade de Deus e das coisas do espírito. Esta forma una, simples, rígida e indeformável exprime com felicidade a Unidade e a Trindade de Deus”. E acrescenta: “As projeções da cúpula desenham a estrela-de-davi que, vista de cima, forma um hexágono regular. Pode-se notar assim, sem maior esforço, uma insinuação da estreita ligação da Nova com a Antiga Aliança. A torre obedece ao mesmo espírito formal em base triangular, com duas faces triangulares planas e duas faces verticais hiperbólicas”.

Pelo que se pode observar, ainda, as peças de cultura artesanal que se juntam em sequências diversas para revestir o templo se apresentam moldadas em formas triangulares.

Chega-se, então, a depreender dessa moderna forma arquitetural da igreja uma perene evocação a Santíssima Trindade.

Seu interior veio sóbrio de decoração e de imagens – o Cristo Crucificado, uma imagem de Nossa Senhora e outra do padroeiro (de autoria de Julio Espinosa, mais condizente com o estilo da igreja, mas já substituída por outra de tipo tradicional).

Na sobriedade, porém, a beleza artística da lateral da chamada Capela de São Judas, decorada com o itinerário de suas viagens para evangelizar a partir da Ceia do Senhor, trabalho exclusivo do artista espanhol Julio Espinosa.

Do mesmo autor, de excepcional beleza ficou o painel da entrada. A alguns passos da grade de ferro que fecha o templo, mediando duas portas – entrada e saída – uma parede de cor dourada, artesanalmente trabalhada. Nela, vazadas do exterior para dentro, letras fechadas ao fundo por transparências coloridas que, ao receberem a luz vinda do interior da igreja, como que se acendiam e deixavam à leitura dos passantes, em cores vivas, a inscrição latina “In honorem Sacti Judae’ (Em honra de São Judas). Sem dúvida, talvez a mais original identificação de um templo.

Como não poderia deixar de ser, um novo templo é sempre mais uma fonte de evangelização. Portanto, era mais um centro de irradiação donde partiria, para todas as direções da paróquia, a proclamação da Palavra de Deus. Julio Espinosa o entendeu assim e quis deixar também expressa esta ideia. Aproveitou-a para decorar exteriormente a igreja, esculpindo em toda a extensão de sua fachada as figuras simbólicas dos quatro evangelistas: São Mateus, São Marcos, São Lucas e São João.

É de se notar ainda a presença de uma rampa que tem mais importância do que à primeira vista se pode imaginar. Dá acesso a um terraço em torno da cúpula, que em sua base deixou espaços abertos para o interior da igreja, fechados, depois, por vidros.

Dizia-se, inicialmente, que através destes os fiéis, posicionados no terraço, poderiam acompanhar atos do culto. Esta previsão, se houve, não chegou a ser praticada.

Tal rampa possibilita alcançar o terraço, que tem prerrogativas de um mirante, por ser um local privilegiado de convergência e observação dos prédios da praia, da Baía de Guanabara e da cidade do Rio de Janeiro.

São José

Cristo - nave central

Nossa Senhora

Concluída a igreja, assim ficou, segundo as informações passadas a ENITUR em 1980: “Compõe-se a igreja de uma nave circular, com raio de doze metros, para quinhentas pessoas sentadas. Foi estudada circunscrevendo os três pilares (ocultos) por ser a mais indicada para comportar tal número de pessoas. Dispõe de um auditório para duzentas pessoas, de um salão de cumprimentos e outro menor para pequenas reuniões, um conjunto de três salas de aula, uma sacristia espaçosa, sala de recepção, outra de atendimento, secretaria e outras dependências, além de um pequeno apartamento. Sem prejuízo da estética foi planejada também uma garagem”.

Esta composição foi a original, já alterada à medida das necessidades que foram surgindo. Vale, no entanto, a lembrança, para valorização do empreendimento em circunstâncias tão adversas que nos dá sua história.

E assim se ergueu em Icaraí este “marco arquitetônico, sem agredir a paisagem e as residências dos paroquianos”.

É ainda justo e gratificante ressaltar que tudo isto se fez com dinheiro só dos paroquianos, dos devotos de São Judas e dos amigos…

A maior importância, porém, fica com o templo espiritual, de pedras vivas, projetado no coração de seu pastor e que, simultaneamente com o templo material, se foi edificando nas linhas do Evangelho durante todo o tempo de seu vicariato.

"A maior importância, porém, fica com o templo espiritual, de pedras vivas, projetado no coração de seu pastor..."

Ele é a comunidade de São judas que nasceu com a paróquia, foi crescendo em formação cristã que lhe chegava por vários meios, e principalmente pelo ESCUTA, órgão paroquial onde fiel e semanalmente publicava seus artigos o seu fundador, padre Abílio Real Martins.

Esta construção não se acabou nem se acaba. Cresce sempre como o quer o Mestre. É a Igreja de Cristo. Um sinal de solidariedade e comunhão. Um centro de vida religiosa, cultural e social.”

Extraído do livro “Nascimento de uma Paróquia” de Maria de Lourdes Carpi.

INSCRIÇÃO NO 1º ENCONTRO DE
EMPRESÁRIOS CATÓLICOS