Papa Pio XII nas ruas de Roma com os fiéis. Foto: Wikipédia / domínio público

Em 19 de julho de 1943, a cidade de Roma foi bombardeada por centenas de aviões aliados que provocaram a morte de cerca de três mil pessoas e deixou milhares de feridos em vários locais da Cidade Eterna, como o bairro de San Lorenzo. Enquanto as bombas ainda caíam, o Papa Pio XII saiu às ruas para consolar, ajudar e dar esperança a todos, não só aos católicos.

Junto ao venerável Pio XII estava Dom Giovanni Battista Montini, futuro Papa Paulo VI, que em outubro deste ano será canonizado pelo Papa Francisco, o qual em diferentes ocasiões defendeu a memória do Papa Pacelli.

A história deste dia trágico é contada pelo historiador italiano Giulio Alfano, que assinala que “o Papa Pacelli chegou ao bairro San Lorenzo quando o ataque aéreo ainda estava acontecendo”.

Segundo informa o jornal ‘Avvenire’ dos bispos italianos, Alfano explicou que, da janela do Vaticano, o Santo Padre viu os aviões chegarem e advertiu acerca do perigo. “Naquele dia Pio XII realmente ganhou o título de Defender Civitatis (defensor da cidade) que lhe seria conferido em seguida”.

O também professor de filosofia política da Pontifícia Universidade Lateranense em Roma explicou que pôde reconstruir os acontecimentos com o testemunho do falecido Cardeal Fiorenzo Angelini, que naquela época servia em uma paróquia local; e com o da sua própria mãe.

A mãe do historiador, Maria Rigi, recordou que naquele dia podia ver “cadáveres na terra, crateras de bombas, morte, sangue e devastação em todos os lugares. As bombas não respeitaram nada, nem o túmulo da família Pacelli no cemitério”.

Rigi podia ver o Papa quando saiu para ajudar as pessoas de Roma e recordou: “Eu o vi a cerca de 50 metros, com suas vestes brancas que foram manchadas de sangue, rezando e abençoando os vivos e os mortos, acompanhado apenas por duas pessoas, o conde Enrico Pietro Galeazzi e o então Dom Giovanni Battista Montini, o futuro Paulo VI”.

Com ambos, o Papa chegou ao Vaticano depois passar por “cerca de oito ou nove quilômetros que não eram fáceis de percorrer, porque o bombardeio ainda não havia terminado. O carro pequeno do Papa poderia ter sido mais um alvo”, contou Alfano.

O historiador explicou que “Pio XII desafiou as circunstâncias, saindo sem escolta, algo impressionante naquele momento, antes de aproximar-se dos romanos nesta tragédia”.

O professor universitário sublinhou que o gesto do Santo Padre “foi realmente um ato litúrgico de oração, de invocação da misericórdia de Deus para que a guerra terminasse imediatamente”.

O Papa Pio XII também esteve nas ruas de Roma em 13 de agosto de 1943, quando ocorreu um novo bombardeio. Naquele dia, estava previsto que celebrasse uma Missa e uma procissão pelos falecidos em 19 de julho.

 

Papa distribuindo ajuda aos fiéis de Roma após o bombardeio. Foto: Wikipédia

“Por isso temos imagens daquela ocasião e foi uma coincidência que ocorresse um bombardeio naquele dia. É necessário não confundir as imagens filmadas com as pouquíssimas fotos do dia 19 de julho, que provam que no primeiro caso a chegada do Pontífice foi realmente uma surpresa, porque o bombardeio não havia terminado totalmente”, continuou Alfano.

Em 2012, o Cardeal Fiorenzo Angelini conversou com a CNA – agência do Grupo ACI em inglês – e recordou: “Fiquei completamente surpreso ao estar perto do Papa que foi ao local do desastre, onde estava entre os feridos, mortos e moribundos”, em 19 de julho de 1943.

O Purpurado recordou que “durante a guerra não houve distinções de nenhum tipo. Todas eram vidas que precisavam ser salvas. Como Igreja, deveríamos ajudá-los”.

Recordando que durante a Segunda Guerra Mundial, o Papa Pacelli ajudou a salvar a vida de cerca de 800 mil judeus, o Purpurado disse que “Pio XII ajudou todos. O Papa deu a ordem para abrir todos os conventos, seminários e mosteiros (para acolhê-los). O Papa cumpriu seu dever”.

“Pio XII foi um santo!”, concluiu o Cardeal.

Giulio Alfano também recordou que o Papa Pio XII não quis deixar Roma, sequer quando Hitler ordenou a operação Rabat, que pretendia sequestrá-lo e levá-lo a Munique para “obrigá-lo a assinar uma encíclica em favor dos nazistas”.

“Meu lugar é em Roma. Como sempre”, disse Pio XII.

Em julho de 2013, quando completou 70 anos do bombardeio em Roma, o Papa Francisco enviou uma carta ao seu Vigário para a diocese local, Cardeal Agostino Vallini, na qual assinalava que o “venerável Pio XII, naquelas horas terríveis, aproximou-se dos seus compatriotas duramente atingidos por estes bombardeios”.

“O Papa Pacelli não hesitou em correr, imediatamente e sem escolta, entre os destroços ainda fumegantes do bairro de San Lorenzo, para socorrer e consolar a população aterrorizada”.

“Naquela ocasião, também foi um pastor preeminente que está no meio do seu próprio rebanho, especialmente no momento da provação, pronto para sofrer junto com o seu povo”, sublinhou o Pontífice.

Por ACI Digital