qui vale a pena refletir um pouco, ainda, sobre o que acontece, mas pode passar despercebido no momento do Canto das Oferendas, dado que esses acontecimentos têm um simbolismo muito profundo. Infundir água no vinho era comum nas refeições antigas, daí esse gesto ter passado para a Liturgia da Missa com belos significados teológicos.
Ei-los:
1) significa a natureza humana unida à natureza divina de Cristo no mistério da Encarnação. O significado é aceitável, pois os monofisistas (corrente que professava uma só natureza em Cristo, a divina) não misturavam água no vinho. Diante disso, o Concílio de Florença (1438) declarou esse rito de infusão obrigatório;
2) significa a participação dos cristãos na natureza divina, uma vez que, pelo Batismo, nos tornamos filhos no Filho (cf. Gl 4,5). Esta afirmação é também válida, de modo que Martinho Lutero, protestante, não aceitava a colocação da água no vinho, pois dizia ser o homem indigno de participar da comunhão com Deus. Em resposta, o Concílio de Trento (1545) declarou ser indispensável a mistura de água e vinho na preparação das oferendas.
Isto posto, comenta, de modo muito apropriado, Dom Estêvão Bettencourt, OSB, Curso de Liturgia, p. 90, que a atual Liturgia professa, ao mesmo tempo, as duas interpretações quando reza, na infusão da água no vinho: “Pelo mistério desta água e deste vinho possamos participar da Divindade do vosso Filho, que se dignou assumir a nossa humanidade”. E mais: “Em síntese, pode-se dizer que, mediante esse gesto tão simples, o eu do ofertante se deve mergulhar, como uma gota de água, no sacrifício de Cristo”.
Feita a oferta do pão e do vinho, o celebrante pode incensá-los e incensar também o altar como sinal de louvor a Deus (cf. Lc 1,9) por meio da prece dos cristãos (cf. Sl 139,2; Ap 8,3-4). Tem-se, em seguida, o momento da Purificação das mãos ou do Lavabo, que quer nos ensinar duas coisas:
a) a teológica: ninguém deve tocar nas coisas santas a não ser com as mãos puras;
b) a prática: purificar as mãos após ter tocado nos dons naturais outrora ofertados. Hoje, embora com sentido meramente simbólico no aspecto prático, o Lavabo não deve ser omitido pela razão teológica que traz consigo.